por Leonardo Dias
Rodovia Transamazônica / (Foto: Araquém Alcántara - publicada na Veja).
Difícil acreditar que em pleno século
XXI o progresso não tenha chegado em regiões do Norte e Nordeste
brasileiro. Afinal de contas, o bordão “ordem e progresso” está
estampado na bandeira da República Federativa do Brasil. Uma pura ironia
para com milhares de brasileiros que residem às margens da terceira
maior rodovia do país, a BR-230, popularmente conhecida como
‘Transamazônica’. Residentes que há mais de 40 anos, sonham por dias
melhores, apenas convivem com promessas fajutas de políticos nos
períodos que antecedem as eleições.
A Rodovia Transamazônica corta sete
estados brasileiros (Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e
Amazonas), num percurso de mais de 4 mil quilômetros de extensão. De
fato, assim como a floresta Amazônica, a rodovia continuará sem que o
permita conduzir o progresso. O asfalto completo da rodovia está
previsto para ser feito em três grandes etapas. Ao todo, a obra vai
custar R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos. Isso significa que a cada
quilômetro de asfalto sairá por R$ 1 milhão. É caro, mas é o preço para
ser pago por duas décadas de equívocos e falta de planejamento.
Trafegar pela estrada que liga o nada a
coisa alguma, é se deparar com um verdadeiro descaso. O asfalto só
existe em trechos esparsos e a sinalização é um luxo inexistente. Uma
verdadeira cicatriz no meio da selva e um monumento à cegueira ambiental
das gerações passadas a lama, que são marcadas por dois distintos
impostos da natureza, o verão e o inverno.
O fato é que a Transamazônica foi criada
sem planejamento e construída a toque de caixa durante a ditadura
militar. Passados os anos a rodovia não conseguiu alcançar o seu
principal objetivo: ligar o Brasil ao Peru, facilitando, desse modo, o
escoamento de produtos entre os países. Como se isso não bastasse, a
taxa de analfabetismo cresce em disparada na região, e já é considerada
duas vezes maior que a média nacional. E os problemas não param por aí,
66% das 1,2 milhão de pessoas que residem na Amazônia Legal, não possuem
água encanada e 27% não têm instalações sanitárias.
Paralelo a isso, cresce também o número
de políticos envolvidos na corrupção, uma problemática recorrente do
Brasil, que nem mesmo as inúmeras manifestações populares que ocorreram
em todo o país no mês de junho conseguiram derrubar a imagem de uma
nação de injustiça. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva bem que
tentou, mas não conseguiu por em prática o edital referente à
implantação de quase mil quilômetros de pavimentação do trecho
pertencente ao Pará.
Mas o que fazer em uma área cortada pela
Transamazônica, em que até os primeiros moradores da região, que foram
festejados como exploradores de um novo eldorado, acabaram surpreendidos
com a evidência de que quase 90% das terras em torno da estrada eram
inférteis para a agricultura? Isso leva a crer que se até em tempos
atrás nem aos exploradores interessavam a terra, imagina ao governo
federal que em tempos atuais está com todas as suas atenções voltadas
para a exploração do pré-sal e o processo de Libras do petróleo.
Certamente os tapajós e marabás
continuarão sonhando com dias melhores, ou até mesmo terão que conviver
com a esperança, já que estão cercados de verde, cor símbolo de sua
etnia. Tudo leva a crer, que caso as obras da Rodovia Transamazônica
venham mesmo a ser finalizadas, o tão sonhado progresso chegue
juntamente com a estreita relação do Peru. País este, que demonstra ter
um maior interesse na região. E quem sabe até um dia, possa explorá-la,
ela que é marcada de sonhos e incertezas, fazendo o que há mais de
quatro décadas, o Brasil não conseguiu fazer.