quarta-feira, 5 de março de 2014

O sub mundo do forró eletrônico

Mudanças no gênero musical trazem à tona possíveis crises


por Leonardo Dias

(Wesley Safadão, vocalista do Garota Safada / Foto: GShow)


Como tudo na vida, o que é bom passa. O atual momento vivenciado no cenário do forró eletrônico não é dos melhores. As constantes mudanças no quadro de vocalistas das bandas, bem como a inserção de músicas em repertório sem os direitos autorais de compositores está levando a um dos mais tradicionais estilos musicais da região Nordeste a estancar uma crise.


Sem forças para se manter em alta, o forró eletrônico vem sendo obrigado a trabalhar com canções de baixo escalão, que na maioria das vezes incitam a depravação da mulher, e o consumo de bebidas alcoólicas, além de trazer em seu contexto a traição de um relacionamento como foco, que desencadeia em brigas e uma possível separação do casal.

(Sertanejo universitário é a atual febre musical no Brasil / Foto: Lemesan)


Não é de hoje que um dos gêneros musicais mais populares do país passa por um período de altas e baixas. O fato é que assim como no mercado do axé music, o forró também vem perdendo espaço para o novo sertanejo, ou sertanejo universitário - como é mais conhecido -, que sob grande aceitação se tornou o estilo musical mais executado em rádios do Brasil, com 70%, segundo pesquisa promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

( Xand Avião e Solange Almeida, vocalistas do Aviões do Forró/ Blog Miruna)


A verdade é que o mercado forrozeiro se transformou em um verdadeiro negócio lucrativo, onde o dinheiro fala mais alto, e acaba contribuindo para a não consolidação do gênero no cenário nacional. Difícil mesmo nos dias de hoje é assistir a uma apresentação de um grupo de forró e não presenciar pequenas rixas entre cantores forrozeiros nos palcos. Tudo isso para ostentar o poder que as bandas exercem sob os forrozeiros.

Entra e sai de vocalistas

(Cantores do Calcinha Preta durante participação do programa Encontro, na TV Globo / Foto: Mais Forró)


O São João nem chegou, e com ele mudanças já podem ser vistas em bandas de forró. A banda Calcinha Preta entrou no ano de 2014 com mudanças na sua formação. Ela decidiu apostar novamente no romantismo para fisgar o público que perdeu há alguns anos. A prova disso: não mediu esforços para trazer de volta à banda sergipana os cantores Paulinha Abelha e Marlus. 

(Os ex-vocalistas do Forró do Muído, Márcia Fellipe e Felipe Lemos / Foto: Itabaiana Cds)


Em contra partida, as bandas pertencentes a A3 Entretenimento, vêm sofrendo para manter os seus vocalistas. É o caso do Forró do Muído que perdeu em janeiro deste ano dois grandes cantores. Trata-se do Felipe Lemos, que optou em seguir carreira solo, e a Márcia Fellipe que formará dupla com o cantor Yoranes Cavalcante, a frente do Forró da Curtição.

A crise também afetou a banda pernambucana Limão com Mel. Após a saída conturbada da cantora Aline Ataíde em setembro do ano passado, o ano de 2014 se iniciou com muita tristeza para os fãs do grupo após o anúncio da saída da cantora Ohara Ravick, que optou em seguir carreira no Axé Music. Como se isso não bastasse, a cada dia aumenta os rumores da possível saída do cantor Batista Lima do grupo.

Modelo de mercado engessado

(Zé Cantor e Taty Girl, vocalistas do Solteirões do Forró / Foto: Vila Mix Blog)


O modelo de mercado exercido por empresários e donos de eventos espalhados por cidades nordestinas tem feito com que muitas bandas não decolassem nas cidades onde grupos já consolidados no mercado atuam. Isso porque as grandes bandas acabam se aproveitando da boa fase de grupos que ainda estão emplacando. Deste modo, elas inserem canções em seus repertórios, impossibilitando o crescimento de bandas pequenas. A ação já é conhecida como a máfia do forró.

Toda regra e sua exceção

(Banda Bonde do Brasil durante participação no programa do Ratinho, do SBT / Foto: Portal Eu Sou Forrozeiro)


Por outro lado, bandas do forró eletrônico que não alteraram a sua pegada no decorrer dos anos e trazem consigo o romantismo, acabaram sendo destaque no mercado. É o caso da banda paraibana Bonde do Brasil, que passou a ser conhecida nacionalmente após lançar o hit “Meu amor voltou”. Passados nove meses após o seu lançamento, a banda ainda colhe os bons frutos do trabalho e continua emplacando outros hits nas rádios do Norte e Nordeste do país. Além disso, o grupo participou de vários programas de TV em rede nacional, como também teve uma de suas canções regravadas por cantores de peso da música sertaneja como Léo Magalhães e passou a ser executada nos shows do sertanejo Gusttavo Lima.

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